quinta-feira, julho 17, 2014

Aprendendo com quem (infelizmente) sabe


Esses corruptos ladrões FDP foram desde o começo contra a implantação do regime de partilha no Pré-sal, que é um modelo muito mais vantajoso para o país por ser eficiente, lucrativo, fácil de controlar, e difícil de burlar. Mas os canalhas querem mexer no marco regulatório e desfazer os contratos atuais para implantar o regime de concessão, que aumenta o lucro das companhias estrangeiras, e onde o valor de royalties a pagar é "estimado". Um modelo que gera menos divisas para o país, e onde é bem mais fácil fazer as coisas "por baixo dos panos". O candidato José Serra, na eleição anterior, fez acordos com companhias estrangeiras para mexer no marco regulatório e beneficiá-las, caso fosse eleito, e é a mesma sujeira em que esse dissimulado e pilantra desse candidato atual está enfiado:

Em sabatina, Aécio fala em discutir sistema de partilha da Petrobras



O grupo desses infelizes sucateou e dilapidou a Petrobras no seu tempo. Dividiram a empresa em fatias, tentaram mudar a marca, suspenderam concursos, demitiram, fizeram o que puderam para prejudicar a imagem da companhia perante a população, para colocar a opinião pública contra ela e conseguir vendê-la em pedaços mais facilmente. Provocaram os maiores desastres ambientais da história da Petrobras, afundaram a maior plataforma de petróleo do mundo, mataram dezenas de petroleiros. Desgraçados, sujos, nojentos, malditos. E não vão descansar enquanto não conseguirem terminar o que começaram.

Mas não vão conseguir. Ah, se não vão.

domingo, novembro 14, 2010

Quem fiscaliza o fiscal?

Extraído do blog Diário do Centro do Mundo, postagem de 05/11/2010

Frias com FHC no lançamento do Valor: jornalismo dá prestígio

Há, na Inglaterra, uma guerra fria entre os políticos e os jornalistas que cobrem política. Os políticos entendem que os jornalistas não receberam mandato da sociedade – votos, em suma – que lhes dê legimitidade nos comentários ou nos debates.

Em seu bom livro sobre jornalismo, My Trade, ou Meu Ofício, Andrew Marr, editor de política da BBC, detém-se longamente nesta discussão. Há alguma coisa nela, feitas as devidas adaptações, que vale para o Brasil.

Quais os limites do jornalismo e dos jornalistas?

Vejamos a Folha de S. Paulo, por exemplo. Ela procura se colocar, em editoriais e em publicidade, como uma espécie de fiscal sagrado dos governos. Tudo bem. Mas é preciso não perder de vista que ela não recebeu essa incumbência da sociedade.

Não foi votada. Não foi eleita.

Fora isso, existe fiscal que não é fiscalizado?

Jornalismo é, como todos os outros, um negócio. Em geral, quem investe em jornalismo não está atrás de dinheiro. Os lucros não costumam ser grandes. O que o jornalismo dá é prestígio, influência. Empresários interessados em recompensas mais palpáveis fazem suas apostas em outras áreas. No começo da década de 2000, quando a internet já desaconselhava investimentos em papel no Reino Unido, um empresário russo comprou o jornal inglês The Evening Standard, em grave crise financeira, examente por isso: para ganhar respeitabilidade.

É um jogo antigo.

Na biografia semioficial de Octavio Frias de Oliveira, está publicado um episódio revelador. Nabantino, o antigo dono da Folha, estava desencantado porque se julgara traído pelos jornalistas que fizeram a greve de 1961. (Meu pai era um deles.) Decidiu vender o jornal. Um amigo comum de Nabantino e Frias sugeriu que ele comprasse. “Dinheiro você já tem da granja”, ele disse. “O jornal vai dar prestígio a você.” Na biografia, a coleção de fotos de Frias ao lado de personalidades mostra que o objetivo foi completamente alcançado. Um granjeiro não estaria em nenhuma daquelas fotos.

Sendo um negócio, o jornalismo não está acima do bem e do mal. É natural que prevaleçam, nele, as razões de empresa. Essas razões podem coincidir com as razões nacionais – ou não. Observe o mais carismático – não necessariamente o melhor ou mais escrupuloso – empresário de jornalismo da história do Brasil, Roberto Marinho, da Globo. Quem garante que o que era melhor para ele era o melhor para o país? Roberto Marinho era tão magnânimo a ponto de pôr os interesses nacionais à frente dos pessoais?

Como a sociedade não elegeu empresas jornalísticas, seus donos não têm que dar satisfação a ninguém sobre coisas como o uso dão ao dinheiro que retiram. Se decidem vender o negócio, nada os impede. Essa é a parte boa de você não ter um vínculo ou uma delegação direta da sociedade. Não existem amarras burocráticas para seus movimentos. Mas você não pode ficar com a parte boa e dispensar a outra – a que não lhe garante tratamento privilegiado apenas por ser da imprensa. Liberdade de expressão não é um conceito que tenha valor em si e sim dentro de um contexto. Na Inglaterra, você não pode publicar um artigo que exalte o terror islâmico, por exemplo. Mesmo no célebre Speaker’s Corner – o canto no Hyde Park tradicional por abrigar qualquer tipo de manifestação de gente que suba num caixote ou numa escada – se você louvar Bin Laden é preso assim que pisar no chão.

No Reino Unido, a mídia é acompanhada, como toda indústria. Há, por exemplo, um órgão regulador independente para a tevê e para o rádio, o Ofcom. A independência é vital. Se o Ofcom fosse manipulado por interesses políticos, seria um problema e não uma solução. Também não prestaria para nada se fosse controlado pelas próprias emissoras. Em poucas atividades há tanta autocomplacência como na auto-regulamentação. Outro fator relevante no acompanhamento da mídia entre os britânicos é a existência de grupos de pressão como o Mediawatcher, uma associação de espectadores que esperneia sempre que acha oportuno.

É curioso que não haja nada desse tipo no Brasil. As pressões do público são desogarnizadas, como vimos, por exemplo, no movimento que sugeriu a Galvão Bueno calar a boca.

Jornalismo é um negócio como todo outro. Apenas, em vez de vender sabão, você vende notícias e análises. Isso dá prestígio – mas não pode dar imunidade. Um modelo de acompanhamento semelhante ao britânico – em que não exista manipulação política do governo, como acontece em ditaduras – seria um avanço para o Brasil. Não se pode confundir acompanhamento com censura: os brasileiros ainda têm clara na memória a agressão ao noticiário sofrida na ditadura militar, e sabem o que aconteceu em países como a Rússia. Mas nada disso pode servir de impedimento para uma discussão adulta que eventualmente conduza da auto-regulamentação para uma regulamentação independente nos moldes da britânica.

Há dois grandes desafios aí. Um é vencer a resistência da mídia em sair da área de conforto da auto-regulamentação. Devem prevalecer aí não os interesses particulares e sim os do país. O outro é neutralizar a tentação dos governo de tomar a si um acompanhamento que só faz sentido se for genuinamente independente.

sexta-feira, maio 28, 2010

Íntegra da entrevista de Dilma Rouseff ao Painel RBS

Painel RBS recebe Dilma Rousseff

Assista à íntegra da entrevista com Dilma Rousseff (PT), que dá continuidade à série especial de Painéis RBS com os principais pré-candidatos a presidente.
Lasier Martins é o âncora do programa, que conta com a presença dos jornalistas André Machado, Carolina Bahia, David Coimbra, Rosane de Oliveira e Tulio Milman

quinta-feira, maio 27, 2010

Jornalista fala sobre o Irã que conheceu

http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1524&print=1

O Irã que eu conheci

Por Sonia Bonzi

Depois de ter morado no Irã, minha maneira de ver o mundo mudou bastante. Não acredito em mais nada do que diz a grande mídia.

Quando soube que ia morar em Teerã senti um certo medo, mas aceitei o desafio. Comecei uma busca voraz por informações sobre o país, a cidade, a história, o povo. Depois de tudo que li, decidi que viveria em casa, reclusa, lendo, escrevendo, fazendo crochet, inventando moda...

Parti de Londres pronta para o sacrifício. Teria que conviver com os xiitas radicais, terroristas cruéis, apedrejadores de mulheres, exterminadores de homossexuais, homens-bomba, mulheres oprimidas, cobertas com véus...

Eu estava submetida às leis locais e me seria vedado mostrar cabelos, pernas e braços. Ficar em casa era o que mais me atraia. Vestir um chador para sair me parecia um pouco demais. A caminho de Teerã eu depositava o sucesso da minha estadia nos jardins da casa onde fui morar. Ter aquele espaço me bastaria.

Logo ao sair do aeroporto comecei a ter uma imagem diferente de tudo aquilo que eu tinha lido. Tudo tão bonito, belas estradas, muita luz, viadutos com mosaicos, jardins bem cuidados, gente vendendo flores nos sinais, um engarrafamento sem buzinas, pedestres poderosos cruzando entre os carros, rapaziada de cabelo espetado, mocinhos com camisetas apertadinhas, moças lindas, super produzidas e também muitas mulheres de chador. Parques cheios de gente. Muita criança. Muito pic nic.

Dizem que a primeira impressão é a que vale. Gostei da chegada. Não tive medo. Não vi tanques, cadafalsos, escoltas armadas... Gostei das caras, das montanhas, das casas, das árvores, dos muros, do alfabeto que me tornava analfabeta.


Logo no segundo dia eu já tinha entendido que minha leitura sobre o cotidiano não tinha nada de realidade. Eu não precisava usar chador. Podia sair vestida com uma calça comprida, um camisão de mangas compridas e um lenço na cabeça. Senti-me nos anos 70, quando eu não dispensava um lencinho.

Deixei o jardim de casa e fui conhecer Teerã.

A imprensa e os meios de comunicação do ocidente me deixavam confusa. O que eu lia e ouvia não correspondi ao que eu vivia e via.

Encontro um povo é acolhedor, educado, culto, simpático, que gosta de fazer amigos, que abre as portas de casa para os estrangeiros, gosta de música, de dança, de declamar poesia... Não encontrei os problemas de abastecimento que me informaram haveria. Comprava-se de tudo, inclusive uísque e vodka. Bastava um telefonema.

Os temíveis homens-bomba nunca passaram por lá. Ninguém se explodia. Foi horrível constatar que enforcamentos aconteciam de vez em quando. Apedrejamento de mulher adúltera já não acontecia há 14 anos.

Fiquei amiga de muitos gays, fiz e fui a festas espetaculares, tomei vinho feito em casa, viajei sem escoltas pelo país, visitei amigos em suas casas de campo, de praia, de montanha...

Apaixonei-me pela culinária refinadíssima, morro de saudades das nozes, pistaches, castanhas, avelãs, frutas secas. Não me esqueço dos pães, do iogurte, do suco de romã puro ou com vodka...

Conheci a Pérsia profunda: lagos salgados, desertos salgados, as antigas capitais, segui a "rota da seda", dormi em caravanserais... Sempre assessorada por amigos locais.

Não conheci um iraniano, de nenhuma classe social, que fosse favorável ao regime teocrático instalado no país. Só uma coisa aproxima o povo do governo: o direito à tecnologia nuclear.

A pressão do ocidente fortalece e radicaliza os aiatolás. O povo do Irã não aceita esta interferência mundial. Quem são os ocidentais para dizer a eles o que fazer? Eles não vem o ocidente como um modelo a ser seguido. Eles não acreditam nos governos que já apoiaram Sadam Hussein numa guerra contra eles. Eles não tem razão para acreditar nas grandes potências. Isto incomoda. Melhor demonizá-los. Eles são acusados de não cumprirem acordos. Quem os acusa também não cumpre.
O domínio da tecnologia nuclear é considerado pelo povo do Irã como um direito deles, que sempre tiveram grandes cientistas, que sempre valorizaram o conhecimento, a medicina de ponta, que querem vender energia nuclear..

O povo iraniano não começa uma guerra há mais de 200 anos. Eles não são belicosos. São diferentes de seus vizinhos. A instabilidade no Oriente Médio não é causada pelo Irã. Apesar da força que a imprensa, os governos, as corporações fazem para denegrir a imagem do Irã, eu confesso que o Irã que eu conheci não é o que é descrito pela mídia ocidental.

Não há favelas em Teerã, não há miseráveis pelas ruas. Minorias tem seus representantes no Congresso, judeus tem seus negócios, suas sinagogas, zoroastrianos tem acesa a chama em seus templos. A família é uma instituição valorizada. Refugiados palestinos e iraquianos são mantidos pelo governo e pelo povo iraniano, que lhes oferece abrigo, alimento e escolas...
Não acredito que ameaças e o uso da força possam melhorar a situação na região. Os iranianos não são os iraquianos. Ser mártir para defender a religião ou a pátria é motivo de júbilo até para as mães.

A negociação, o respeito, a falta de arrogância, as informações corretas são as armas para defender a estabilidade no mundo. Pena que muitos interesses financeiros estejam acima dos sonhos de bem-estar e paz.


Mulheres em manifestação de oposição ao governo Ahmadinejad


A escritora Sonia Bonzi é uma das mais antigas colaboradoras da NovaE, escrevendo do Irã e de vários países do mundo.

sexta-feira, maio 21, 2010

O mundo cinzento das alianças

Reportagem da BBC Brasil

Rogério Simões | 2010-05-11, 15:57

politicosukblog.jpgO senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello anunciou sua pré-candidatura ao governo de Alagoas. Para quem se esqueceu, Collor já governou o Estado nordestino, tendo sido eleito em 1986 favorecido pela então gigantesca popularidade do presidente José Sarney, do Plano Cruzado e, consequentemente, do PMDB. Como no final o plano não deu certo, Collor deixou o PMDB e passou a culpar Sarney por todas as mazelas do Brasil, como parte da estragégia que o levou ao Palácio do Planalto, em 1989. Muitos anos depois, já reabilitado na política e agora senador pelo PTB, Collor aliou-se ao também senador e também ex-presidente Sarney no Congresso Nacional, compartilhando um novo amigo em comum: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antigos alvos da fúria política de Lula, Sarney e Collor serão inclusive cabos eleitorais de Dilma Rousseff (PT) na disputa pela Presidência da República.

Essa é a realidade das alianças políticas, capazes de passar por cima de ideologias e mágoas antigas em nome, pelo menos em tese, do interesse comum. Mais conhecidas por muitos como "é dando que se recebe", alianças polêmicas estão longe de se restringir a jovens democracias, como temos visto claramente nos últimos dias. Pouco acostumados com sua necessidade e suas consequências, os britânicos são agora obrigados a enfrentar esse monstro da política, que põe princípios de lado e levam até as mais intransigentes lideranças a dançar com o inimigo.

As eleições para o Parlamento britânico, no último dia 6, não resultaram em um vencedor claro. O Partido Conservador, da oposição, ficou com o maior número de cadeiras e teve o maior número de votos, mas sem conseguir os 326 assentos que o permitiriam governar sem alianças. Com isso, o terceiro colocado, Partido Liberal Democrata, de características "conservadoras" na economia e "esquerdistas" em políticas sociais, virou o fiel da balança. Seu líder, Nick Clegg, anunciou que negociaria um possível acordo primeiramente com os conservadores, do líder David Cameron. Após três dias de conversas, a surpresa: Clegg também vinha negociando, secretamente, com o primeiro-ministro trabalhista, Gordon Brown, que prometeu renunciar ao posto se um acordo de seu partido com os liberais fosse obtido. Ou seja, nas alianças britânicas um acordo entre o segundo e o terceiro colocados nas eleições poderia terminar com um primeiro-ministro diferente dos líderes dos três maiores partidos. O eleitor, que assistiu entusiasmado aos três debates que marcaram a campanha eleitoral deste ano, poderia receber como líder do país alguém que nem esteve presente nos embates na TV.

Como em qualquer processo de composição de aliança, a necessidade de concessão deixa muitos eleitores e as bases dos partidos indignados, perplexos. Parte do Partido Trabalhista disse claramente que não aceita um acordo com os liberais, por diferenças ideológicas (os liberais são vistos por muitos como distantes demais dos sindicatos de trabalhadores) ou programáticas (muitos trabalhistas não querem a reforma que os liberais têm exigido para mudar o sistema eleitoral britânico). Muitos liberais democratas passam mal só de pensar em participar de um governo conservador, e entre os conservadores há quem prometa lutar com unhas e dentes contra a reforma eleitoral liberal, mesmo que esta seja parte inicial de um acordo.

Os britânicos estão mais acostumados a um mundo político preto ou branco, conservador ou trabalhista, assim como os americanos se dividem entre republicanos e democratas. Diante do descrédito do atual sistema e do Parlamento, após um escândalo de abuso de despesas de parlamentares, as preferências políticas diluíram-se nas eleições da semana passada, oferecendo um cenário de divisão e incertezas. Mas muitos acreditam que as alianças, exatamente pela fragmentação das preferências do eleitor e do enfraquecimento das ideologias, serão parte da realidade daqui por diante. O mundo político britânico parece ter se tornado mais cinza, e uma sociedade antes acostumada com posições claras e radicalmente opostas terá de conviver com a dúvida e a acomodação política. Lula, Collor e Sarney são exemplos de um mundo em que a necessidade vem primeiro, e a ideologia depois. Talvez os britânicos tenham de abraçar um mundo novo, que há muito faz parte da realidade brasileira.

domingo, fevereiro 07, 2010

Vazamento de programa do PT precipita debate ideológico

Post extraído do blog Óleo do Diabo (http://oleododiabo.blogspot.com/2010/02/vazamento-de-programa-do-pt-precipita.html)

Tem gente que ainda acha que as ideologias acabaram. Uns o dizem com os lábios retraídos num esgar de ironia, indicando o puro oportunismo da afirmação: não crêem no que dizem, pois sabem que a ideologia ainda existe, mas interessa a eles assegurar o oposto. Outros fazem-no com inocência, acreditando piamente que o mundo não comporta mais reviravoltas doidas.

De fato, um dos erros dos idealistas dos anos 60 foi achar que a economia dos países teria a mesma flexibilidade do cinema experimental. Não é assim, mas isso também não significa que mudanças não sejam necessárias. Até porque as mudanças são inevitáveis. Dos anos 60 para cá, o mundo já passou por tantas revoluções tecnológicas que muitos dos argumentos brandidos por quem almejava revirar as coisas pelo avesso hoje esvaíram-se junto com o linotipo, a máquina de escrever, e as saudosas cartas escritas à mão.

As ideologias não acabaram, e o próprio debate sobre a existência ou não delas, ou a importância ou não delas, é um debate ideológico. Lembro-me de Nelson Motta entrevistando Arnaldo Jabor na Globo, a respeito do filme que este último está fazendo. Sem ligação nenhuma com o tema, mas coerente com a algo bizarra obsessão de Motta em criticar a esquerda e o socialismo, o jornalista trocou figurinhas com Jabor sobre a (na sua opinião) negativa influência da ideologia sobre o cinema brasileiro. Era um joguinho de cartas marcadas. Um ping pong bobinho, anticomunista, feito para agradar os filhos do Roberto Marinho. Jabor criticou os cineastas dos anos 60 por se apegarem às ideologias.I

sso é uma baita grosseria. Claro que pode haver exageros. Houve patrulhamento nos anos 60 e 70, mas a culpa não foi da esquerda, e sim o resultado da atmosfera sufocante, totalitária, desesperada, produzida pela ditadura militar. Havia aflição no ar. Segredos em toda parte. Gente desaparecida, quiçá já morta ou sendo torturada. Natural que a intelectualidade batesse cabeça. Essa releitura conservadora dos tempos ditatoriais, que visa culpabilizar a esquerda pelo clima desconfortável da época, como se vê no filme sobre Wilson Simonal, e nos comentários de Motta, é altamente ofensiva aos ideais democráticos, violados brutalmente pelo regime militar. A história não morre. O regime militar continuará, enquanto existir história, a violar a democracia brasileira. Não se esquece isso, ainda mais se tratando de um fato tão recente.

O Estadão obteve, ontem ou anteontem, o programa preliminar do Partido dos Trabalhadores a ser usado na campanha de Dilma. A divulgação do texto precipitou um debate ideológico interessante, e a esquerda só tem a ganhar com isso, visto que o conservadorismo nacional, representado por José Serra e os partidos que o apoiam, continuam retraídos em termos de propostas políticas. Formados na escola neoliberal, os tucanos se vêem acuados diante da constatação de que os brasileiros, como qualquer povo em desenvolvimento, querem um Estado forte, querem serviços públicos eficientes (o que implica em mais funcionários), e não querem mais privatizações irresponsáveis, indiscriminadas.

Desorientados, os tucanos não se arriscam a formular plataformas políticas. Não participam de nenhum debate público. Nas dezenas de conferências realizadas no país, por iniciativa não só do governo mas de inúmeras entidades da sociedade civil, os tucanos estiveram sempre ausentes. Só mostraram o bico quando a big press passou a criticar alguns pontos discutidos nesses encontros, e sempre alinhando-se caninamente, mediocremente, sem criatividade, sem culhões, à opinião dos conglomerados midiáticos. Serra, o principal candidato da oposição, optou por um silêncio deliberado sobre qualquer questão estratégica. Em que isso contribui para a democracia? E não se trata de evitar campanha antecipada. Serra, como cidadão brasileiro, e como quadro político, tem o direito e o dever de participar dos debates públicos. Enchente em São Paulo? Tem de convocar imediatamente a sociedade para um grande esforço com vistas a minorar o sofrimento das famílias que perderam suas coisas e vivem em áreas alagadas com água fedida e contaminada. Buraco no metrô? Igualmente deveria vir à público prestar esclarecimentos. Queda de viadutos? Onde está Serra nesses momentos?

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Na verdade, talvez haja um tipo de pendenga ideológica que tenha perdido a vitalidade, que são as acadêmicas, quase sempre pedantes e autoritárias, que pretendem impor teorias abstratas, artificiais, duras, a realidades complexas, instáveis, dinâmicas. A ideologia deve ser formada por dentro da ação política, para que tome a forma da realidade; para não se converter num invólucro bonito que não se encaixa, porém, em nenhum objeto.

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Eu estou lendo o livro do Nassif, Cabeças de Planilha, uma obra que faz qualquer brasileiro sentir arrepios de horror perante as inacreditáveis arbitrariedades cometidas pelo conluio entre uma burocracia técnica formada no estrangeiro, sem formação política, sem nacionalismo, e determinados grupos políticos igualmente sem nacionalismo e sem compromisso com o bem estar da população. Deslumbram-se com o poder e a possibilidade de criar e afundar fortunas mediante pinceladas no câmbio, nos juros, nos gastos de governo.